Poltrona Cabine: O Estranho/Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: O Estranho/Cesar Augusto Mota

 O estranho

O que você acha de fazer uma grande viagem e visualizar encontros constantes do presente com o passado? “O Estranho”, de Flora Dias e Juruna Mallon, se propõe a realizar esse percurso por meio de memórias e experiências das pessoas que passam por um conhecido aeroporto que foi erguido em meio a um antigo território indígena.

Pelo Aeroporto Internacional de Guarulhos passam cerca de trinta e cinco mil pessoas, mas o olhar não está sobre quem está passando por ali, mas sobre o que ali permanece. Durante a narrativa, surgem pessoas cujas vidas se cruzam no dia a dia do trabalho neste ambiente, e acompanhamos Alê, funcionária do aeroporto cuja história familiar acabou sobreposta pela construção do local.

Por meio da narração off de Alê e dos objetos que ela apanha das malas de passageiros que não foram devolvidas, o espectador é convidado a fazer muitas interpretações e a refletir acerca do tempo e o antagonismo entre o tradicional e o moderno. O contraste entre a realidade que vivem os funcionários do aeroporto com o das pessoas que viviam no espaço que antecedeu à construção faz despertar o interesse do público pela proposta da personagem central, a de tentativa de resgate de sua ancestralidade, mas que esbarra no período atual, o da modernidade.

 Além de tratar de memórias e espaços, o longa também destaca a preservação da natureza e cultura indígena, e uma reconciliação com o passado histórico, que se dá por meio de uma grande representação visual, com a junção de imagens formando a mata. Se os personagens secundários tem aparição breve, a abordagem não é prejudicada, Alê consegue fazer o resgate de seu passado indígena e seus sentimentos também são compartilhados, com destaque para Silvia, amiga de Alê.

Essa belíssima viagem e as reflexões feitas durante “O Estranho” não só mostram como pode ser épico fazer um resgate de suas origens como também existem formas de interpretar o tempo, que está constantemente passando por nós. E a forma como enxergamos o passado pode ser uma solução para as perguntas que surgem no presente e uma orientação para o futuro.

Cotação: 4/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

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