Maratona Oscar: A Baleia/ Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: A Baleia/ Cesar Augusto Mota

Existem terrores ou dramas psicológicos que mexem tanto com nossos sentimentos que são capazes de nos levantar ou até mesmo nos derrubar, seja por medo, aflição ou admiração. Esse ingrediente é bastante presente nos filmes de Darren Aronofsky, aclamado pela crítica e público nos últimos anos. A bola da vez é o filme “A Baleia” (The Whale), sucesso no Festival de Veneza, com aplausos de seis minutos para o ator Brendan Fraser (A Múmia), que volta aos holofotes após um breve tempo sumido. Nessa nova temporada de premiações, a nova produção de Aronofsky vem forte?

Acompanhamos a vida de Charlie (Fraser), um carismático e eficiente professor de inglês, mas com semblante triste e fadigado por sofrer de obesidade mórbida. Ele luta constantemente contra a compulsão alimentar e o sentimento de culpa por ter abandonado a filha Ellie (Sadie Sink), ainda criança e hoje com 17 anos. Ao longo dessa jornada, constatamos três visitas ao personagem central, como a própria Ellie, a enfermeira e melhor amiga Liz (Hong Chau) e Thomas (Ty Simpkins), fanático religioso que tenta converter Charlie a todo custo.

Como dito anteriormente, Fraser volta após ter ficado apagado e não engrenado bons trabalhos nos últimos anos, e o Charlie de ‘A Baleia’ foi um grande desafio para ele, de mostrar ao público que ele é ainda um profissional comprometido com o que faz e convencer com sua atuação. Charlie, apesar de sofrer preconceito por ser obeso e saber que as pessoas o olham com um certo pavor, é puro, de bom coração e acredita na bondade e generosidade do ser humano. Fraser consegue carregar o filme até o fim e sua expressão corporal é impressionante, passa verdade e sinceridade na pele de um homem de 270 quilos e prestes a sofrer enfarte, além de tomado pela culpa de ter deixado a filha para trás. Seu olhar e semblante derrubados causam aflição e ansiedade no espectador, que passa a se importar com o protagonista e acompanhar todos os seus desdobramentos.

Já a personagem de Hong Chau, Liz, funciona como dinâmica, é ela que procura ser o alívio do protagonista, e busca tirar o melhor dele, com incentivos psicológicos e muita injeção de ânimo, apesar de fazer algumas vontades dele. Liz é um misto de descontração e frieza, a enfermeira e melhor amiga de Charlie sabe ser engraçada em alguns momentos e fria quando é necessário, afinal está lidando com alguém de alta fragilidade psicológica. Hong Chau consegue entregar tudo o que sua personagem pede, e sua atuação é segura e transmite veracidade e muita empatia, sendo merecida sua indicação ao Oscar como atriz coadjuvante.

O cenário utilizado e a pouca luz no ambiente formam uma bela fotografia, de melancolia, de ambiente sombrio e de trevas, que ilustram o sentimento de devastação de Charlie, vítima de preconceito e com sérias dificuldades para se levantar e caminhar. E o professor apenas encontra conforto ao ler o trabalho de um aluno, intitulado ‘A Baleia’, mesmo título do filme, sobre a vingança de um homem contra uma baleia branca. O nível de obesidade do protagonista é bem capturado pelo diretor, que consegue fazer o espectador sentir a dor de Charlie, até mesmo antes de descobrir toda a verdade por trás do abandono de Ellie e o motivo que o faz comer compulsivamente. Um trabalho de direção também digna de elogios, assim como de maquiagem.

‘A Baleia’ não só merece atenção pelas indicações de melhor ator (Fraser), maquiagem e penteado e atriz coadjuvante (Hong Chau) para o Oscar 2023, mas também por ser um filme didático e carregado de forte carga dramática, que ilustra que a intolerância e o preconceito não só podem causar danos psicológicos, como também podem ser letais. Uma obra com chances reais de estatueta nas três categorias, e também de ficar na mente do público por muito tempo.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

Com distribuição da Califórnia Filmes, A BALEIA chega aos cinemas em 23 de fevereiro

Com distribuição da Califórnia Filmes, A BALEIA chega aos cinemas em 23 de fevereiro

Novo filme de Darren Aronofsky rendeu a Brendan Fraser sua primeira indicação ao Globo de Ouro
Filme

Indicado ao Globo de Ouro de Melhor ator em filmes dramáticos, por A BALEIA, Brendan Fraser interpreta Charlie, um professor de 270 Kg, que não consegue sair do sofá, e repleto de problemas emocionais. No Festival de Veneza, em setembro passado, ele também recebeu quase 10 minutos de aplausos na sessão de gala do longa, e o ator é um dos mais cotados para o Oscar. Dirigido por Darren Aronofsky (mãe!, Réquiem para um sonho), o filme chega aos cinemas nacionais em 23 de fevereiro com distribuição da Califórnia Filmes.

Fraser se transformou fisicamente para viver o personagem: um homem com obesidade severa que não consegue sair do sofá. Professor de literatura, ele precisa se confrontar com seu passado, que envolve uma filha adolescente (Sadie Sink) e sua ex-mulher (Samantha Morton). O roteiro é escrito por Samuel D. Hunter, baseado em sua peça homônima.

O que eu gosto sobre A BALEIA é como nos convida a ver a humanidade dos personagens, que não são totalmente bons ou maus, eles têm nuances como qualquer pessoa, e vivem vidas muito ricas”, conta Aronofsky, que se interessou em adaptar a peça desde que a viu, mais de dez anos atrás.  

Fraser, por sua vez, conta que teve uma entrega total ao personagem, como nunca fizera antes, para mostrar toda a força e vulnerabilidade de Charlie. “Ele tem uma melancolia que o paralisa que vem do fato de nunca poder ter sido a pessoa que queria ser. Ele carrega muitos sentimentos de culpa”, explica o ator.

Fraser também defende o personagem, que, para ele, não é mesquinho ou calculista, mas vítima de suas próprias escolhas. “Charlie feriu as pessoas por não ser direto, não ser autêntico, e agora vive uma batalha consigo mesmo. Ele deixou de lado de acertar as contas com as pessoas que amava, e agora pode ser tarde demais para fazer isso. Quando diz aos seus alunos que precisam encontrar uma maneira de dizer a verdade, no fundo, ele está falando isso para si mesmo.”

Aronofsky confessa que sempre esteve próximo de Fraser durante todo o processo, a fim do proteger, pois sabia que, ao entrar no personagem, o ator também ficaria muito fragilizado emocionalmente. “Há uma espécie de casamento entre o poder das palavras do roteiro e a coragem da interpretação de Brendan. Conversamos muito sobre como queríamos aproximar, mas também afastar o público do personagem.”

Preconceito contra obesidade é uma das últimas fronteiras das maneiras de uma pessoa menosprezar a outra. Muitas vezes, as pessoas do tamanho de Charlie são invisíveis, vistas apenas por suas famílias e cuidadores. É uma forma de silenciamento. Conversando com essas pessoas, percebi que, como qualquer um, elas querem ter suas histórias contadas, e serem tratadas de maneira justa e honesta. Isso tudo foi um impulso para me levar à autenticidade do personagem”, conclui Fraser.

A equipe artística de A BALEIA inclui também o diretor de fotografia Matthew Libatique (Cisne Negro, Homem de Ferro 2); o compositor Rob Simonsen (Foxcatcher: Uma história que chocou o mundo); o montador Andrew Weisblum (A Crônica francesa); a diretora de arte Jurasama Arunchai (Amor Sublime Amor); e o figurinista Danny Glicker (Milk: A voz da igualdade).

A BALEIA será lançado no Brasil pela Califórnia Filmes.

Sinopse

Charlie é um professor de inglês com obesidade severa, que tenta se reconectar com sua filha adolescente como uma última tentativa de redenção. Baseado na peça homônima de Samuel D. Hunter.

Ficha Técnica

Direção: Darren Aronofsky

Roteiro: Samuel D. Hunter, baseado em sua peça

Produção:  Jeremy Dawson, Ari Handel, Darren Aronofsky

Elenco: Brendan Fraser, Sadie Sink, Hong Chau, Ty Simpkins, Samantha Morton

Direção de Fotografia: Matthew Libatique

Música: Rob Simonsen

Montagem: Andrew Weisblum

Gênero: drama

País: EUA

Ano: 2022

Duração: 117 min.