Poltrona Resenha: Um Instante de Amor/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Resenha: Um Instante de Amor/ Cesar Augusto Mota

Sempre que entra em cartaz um filme baseado em livro, a curiosidade e a expectativa aumentam, não é mesmo? E o que dizer de uma história que se passa na década de 1950 e que explora o drama, a razão, a loucura e a doença utilizada como algo metafórico? ‘Um Instante de Amor’, dirigido por Nicole Garcia e baseado na obra de Milena Agus é a grande estreia da semana no circuito nacional, distribuído pelas Mares Filmes. O longa terá as participações de Mario Cotillard e Louis Garrel, além de Alex Brendemühl.

A história acompanha Gabrielle (Cotillard), uma jovem que enfrentou um trauma por conta de uma desilusão amorosa e que foi obrigada a se casar com um operário, e sem hesitar. Pressionada por conta da idade e da necessidade de contrair matrimônio, a moça se vê num dilema e começa a sofrer de surtos, além de problemas renais. Sem alternativas, a família resolve interná-la e na clínica de recuperação ela conhece André Sauvage (Garrel), um militar em estado terminal por quem nutre uma ardente e obsessiva paixão.

O que chama a atenção é a atuação de Marion Cotillard, que demonstra uma personagem com personalidade forte, impulsiva e bem avançada para a época, com sedento desejo pelo amor e gênio indomável, algo inimaginável para as mulheres dos anos 1950. E as dores que Gabrielle sente, as complicações renais, são fruto de seus sentimentos, medo e necessidade de autocontrole, daí a metáfora empregada na obra. O filme merece destaque nesse ponto, por fugir de coisas óbvias, por trazer originalidade e a essência do feminino, como as fragilidades, a personalidade e o empoderamento, muito bem retratados e com solidez de Cotillard.

O marido de Gabrielle, José, interpretado por Alex Brendemühl, também impressiona pelo seu lado passivo e humano. Apesar de perceber que sua esposa não o ama e que o casamento não tem futuro, ele deseja que Gabrielle viva bem e se reencontre na vida, diante do seu quadro de desespero, confusão e loucura. Você não consegue ficar contra José, acaba torcendo também por ele e fica ainda mais impressionado com sua evolução até o fim da história, no momento em que Gabrielle recebe alta e pode ir para casa.

Outros pontos fortes do filme são a trilha sonora e a fotografia, com cenários bonitos e a música Barcarola de Tchaikovsky, com muita elegância e charme para a obra. O espectador fica convencido que ele está em Provence, uma das cidades onde se passa a história, além de se deixar envolver pela música e atuação do elenco, com elegância, sensualidade e muita honestidade. Você vai se deparar com a honestidade masculina e o empoderamento e delicadeza feminina e irá fazer contrapontos, uma trama muito bem construída.

A diretora Simone Garcia realiza um trabalho digno, com um enredo que explora o romantismo, a sensibilidade, a razão e também abre espaço para o inesperado, que surge da metade da trama e vai até o desfecho, segurando a atenção e despertando a curiosidade do público. Um filme que sabe equilibrar razão e emoção e equilibrar os universos feminino e masculino, vale a pena conferir.

‘Um Instante de Amor’, destaque no Festival Varilux de Cinema Francês 2017, chega ao circuito nacional em 29 de junho. Não perca!

 

 

Por: Cesar Augusto Mota